quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quando ganhar é ser vice


Por Cássio Moreira 

No Brasil a vaga de vice sempre foi desvalorizada. Já fomos vice-campão mundial, vice-campeão na Fórmula 1, vice-campeão em bola de gude, etc. Até nos campeonatos de futebol ser vice é perder. 
A eleição de Porto Alegre será uma das mais disputadas. Quem não for para o segundo turno, e acredito que haverá, não será vice-prefeito. De um lado o atual prefeito, grande pessoa e caráter, entretanto com uma aliança cada vez mais a direita com a entrada do DEM e a confirmação do PP. De outro lado, jovem, mas já com grandes vitórias eleitorais, a deputada federal Manuela do PCdoB e seu leal aliado, o PSB, além de outros partidos como o PSD e o PSC. 
Em terceiro lugar nas pesquisas está Villaverde. O PT já esteve muitos anos na prefeitura e revolucionou a forma de governar com Olívio Dutra. Seus principais nomes, Maria do Rosário e Henrique Fontana, por motivos diversos abriram mão de concorrer. A ministra fazendo um belíssimo trabalho como Secretária de Direitos Humanos prepara-se para ser a sucessora de Tarso Genro. O segundo, por questões particulares, priorizou a família. 
Acabou sendo Villaverde. Talvez até ele não acreditasse em ser candidato e sim vice. Homem inteligente que é, veria como uma vitória ser eleito vice. Afinal, havia uma época no Brasil que os vices governavam. Lembro Café Filho, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco, só pra citar no âmbito federal. 
O PT ficou numa encruzilhada. Se apoiasse Fortunati desagradaria seus fieis parceiros e aliados: PCdoB e PSB. Se apoiasse Manuela, desagradaria o PDT, um partido que poderá ajudar muito na reeleição em 2014, caso não tenha candidato próprio. Embora, cada vez mais, há chances de termos três candidatos competitivos: Tarso, Ana Amélia e Fortunati. 
Houve a tentativa de garantir a candidatura do PT com Raul Pont, quando setores mais a esquerda do partido tentaram viabilizar a candidatura do ex-prefeito. Contudo, com a sua desistência, Villaverde consolidou-se como candidato. Agora, para muitos do partido, ficaria complicado recuar e ser vice de alguém. 
Entretanto, perde muito espaço deixando de ser vice e apenas apoiando num segundo turno. Em segundo turno não é vice, é agregado. Agregados não têm a mesma importância do que vice. O PT empurra com a barriga um problema que poderia resolver agora. Melhor momento não há, quando Ana Amélia declara apoio a Manuela, contrariando seu partido. 
O PT sendo vice de Manuela deixa a senadora em posição difícil. Se Ana Amélia quiser manter a coerência, deverá continuar apoiando o projeto que já declara ser o melhor, mesmo tendo o PT de vice. Se não apoiar, nessas circunstâncias, perde a credibilidade e sai mais enfraquecida perante o eleitorado e seu partido. 
O PT ser vice de Fortunati é algo inviável nessa altura do jogo político, pois explode a aliança tão arduamente construída com os partidos de centro-direita. 
O PT, então, estaria mais preocupado em garantir a manutenção ou ampliação da sua bancada de vereadores em Porto Alegre, algo mais fácil de construir-se tendo um candidato forte na majoritária. Acredito que esta não seja uma boa explicação para permanecer com candidato próprio. Mas ainda pergunto, o que vale mais: uma vaga de vereador ou uma de vice-prefeito? 

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