segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Afinal, o que querem as mulheres do século XXI

Afinal, o que querem as mulheres do século XXI?

Por Cássio Moreira

Certa vez li em algum lugar algo mais ou menos assim: “que muitos de nós, homens, poderíamos pensar que basta o cara ser rico, forte e alto; e pronto. Poderíamos, inclusive, levá-las a restaurantes caros, comprar um carro de luxo importado e ir à academia todos os dias (bom, quanto ir academia acredito que, se não limitarmos o uso dos nossos cérebros para isso, nos fará muito bem), mas ainda não é isso que elas querem para ter algo sério conosco”. Verdade que tudo isso ajuda, mas como diz um ditado popular: beleza atrai sim, mas, com certeza, não mantém.

Então, afinal, o que querem as mulheres do século XXI? O mesmo que as mulheres do século XIII, XIX e XX. Atitude meus amigos. O que elas esperam realmente de um Homem, com H maiúsculo e dourado, é ATITUDE. Ser um cara, que seja leal a ela, o melhor amigo e o melhor amante. Que seja justo com os outros e consigo mesmo. Que tome partido, mesmo que seja pra saber qual restaurante levá-la ou a qual filme assistir. Que sempre chame a responsabilidade pra si e que, de saldo, ajude a resolver os problemas dela. Ela quer que tenhamos atitude de homem e não de menino. Quer que sejamos gentis, mas sem jamais perder a firmeza. Dar valor às pessoas, a família, mas antes de tudo, valorizá-las. Quer que demonstremos que ela é a mais linda, e que somos homens o suficiente, e merecedores, para tê-las. Mulheres adoram saber que temos orgulho de tê-las como nossas namoradas. Gosta de cara com opinião própria, mas que nem por isso saia brigando ou agredindo alguém. Muitas vezes elas podem gritar numa discussão, mas se nos fizermos o mesmo, meus amigos, elas nos acharão grossos. Coitados dos que agridem uma mulher, não sabem eles que agridem a sua masculinidade com isso. Não é brigando na rua ou no trânsito que impressionaremos esses seres tão exigentes...

Claro que não poderia esquecer: dar muito prazer e/ou segurança a elas, com doses de bom-humor (na hora certa). Use e abuse dos cheiros e das palavras, mulheres são muito olfativas a auditivas e sempre finalize com um abraço forte e protetor. Se eu pudesse resumir em quatro palavras diria: proteção, conforto, uma boa conversa e química são os ingredientes certos. Mas não se esqueça que uma boa parte das mulheres, como diria Merlyn Monroe, são egoístas, impacientes e um pouco inseguras. Cometem erros, um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se não soubermos lidar com o pior delas, (ainda mais naqueles dias), então com certeza, não mereceremos o seu melhor! Mulheres... Geralmente começam como virgens impassíveis e misteriosas, mas se tornam invencíveis na escuridão! Depois ambicionam o mar, e navegam infinitamente sem fronteiras pela nossa imaginação.

Árduo desafio para todos nós... 


sábado, 20 de outubro de 2012

Considerações sobre “Trabalhismo, Socialismo, Capitalismo”


Por Cássio Moreira

Em artigo anterior (http://sul21.com.br/jornal/2012/10/psb-e-a-continuacao-de-um-projeto-de-nacao-o-trabalhismo/), mencionei o fato de o PT ser o maior partido trabalhista do país na atualidade e a possibilidade do PSB continuar esse projeto reeditando a chamada Frente Brasil Popular [trabalhista] (em parceria com PDT e PCdoB, entre outros). Contudo, essa afirmação deve ser esclarecida. O PT não nasceu trabalhista, entretanto, seu governo atual é trabalhista, principalmente a partir da ascensão da presidenta Dilma Rousseff no núcleo do poder. Embora quase todas as reformas de base ainda se encontram na pauta do dia, várias ações executadas pelo governo, como o programa “Minha casa minha vida” (outro aproche para a Reforma Urbana), a expansão da Rede Federal e do PRONATEC (Programa Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Emprego), o PAC, a própria redução da taxa de juro, entre outros, vão ao encontro dos postulados trabalhistas.

Cabe contextualizar e esclarecer o conceito de trabalhismo adotado aqui: o conceito do trabalhismo, tal como desenvolvido na Inglaterra, passou por transformações, adaptando-se à realidade e adquirindo características próprias.”, e teve como um de seus principais ideólogos, o sociólogo e político Alberto Pasqualini, que tinha como base os princípios do solidarismo cristão (democracia-cristã). Definia-se o trabalhismo como expressão equivalente a de capitalismo solidarista. Por esta expressão, tem-se que a ideologia trabalhista reconhece o capitalismo como sistema econômico, defendendo consequentemente a propriedade privada. Porém, a ideologia trabalhista defende uma intervenção do Estado na economia, de modo a corrigir os excessos do sistema capitalista e atingir uma forma mais equilibrada e humana do capitalismo, dando ênfase nas políticas públicas com objetivo de melhorar a condição de vida dos trabalhadores, o que seria atingindo baseado na “conciliação de classes”. O trabalhismo sustenta a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a sua convivência harmônica, bem como a superação das diferenças de classe, sem violência, através da melhor distribuição da riqueza e da promoção da justiça social.

Parafraseando Moniz Bandeira, o trabalhismo, foi a manifestação nacional, brasileira, do que na Europa foi a social-democracia após a guerra de 1914/1918, ou seja, uma corrente política que tratou de empreender reformas sociais dentro da moldura do sistema capitalista. Assim o governo do PT de Lula-Dilma estão a empreender, em outra etapa e em novas condições históricas, um caminho similar ao que Vargas, JK, Jango e o PTB trilharam, até o golpe militar 1964, buscando a retomada do desenvolvimento econômico nacional, mediante o entendimento entre parte do empresariado e a classe trabalhadora, e instrumentalizando a política externa. Mas as condições históricas são diferentes. Nada se reproduz do mesmo modo. O Brasil de 2012 não é o de 1954 nem o de 1964. É outro. É uma continuação, uma projeção, mas não é o mesmo de outrora. Por diversas vezes, Vargas e Jango foram acusados, na época, de serem submissos aos ditames de Washington. Inclusive San Tiago Dantas, na época, chegou a diferenciar a esquerda entre “positiva”, defensora das reformas, da “esquerda negativa”, que queria fazer a revolução. O espetáculo hoje se repete. A internacionalização da economia é imensamente maior do que na época de Vargas e de Goulart. Lula já encontrou o modelo neoliberal implantado. Não podia nem pode voltar atrás. Porém, parou as privatizações. E sua política financeira não poderia ser outra, porque manter o eqüilíbrio fiscal, não gastar mais do que se arrecada, é imprescindível a qualquer regime. Com inflação, moeda podre, não pode haver redistribuição de renda. Se Lula agisse de outro modo seu governo seria tragado pela crise econômica e financeira, com a fuga de capitais que se desencadearia.

A seguinte passagem de um dos discursos de Pasqualini é muito esclarecedora para definir sua essência:

“O trabalhismo não é, pois, necessariamente, um movimento socialista. Como vimos, o socialismo não é um fim, mas um meio, isto é, uma forma de organização econômica tendo em vista a eliminação da usura social.

Abstraindo das diferentes concepções socialistas - incompatíveis com os princípios cristãos quando têm caráter materialista - e considerando socialismo simplesmente a socialização dos meios de produção, de circulação e de troca, mediante uma planificação da economia, observamos que o sistema seria inexequível num país como o Brasil.

Devemos, pois, permanecer no sistema da iniciativa privada, isto é, no regime capitalista. Mas, se é conveniente que se mantenham em seus delineamentos gerais, a estrutura do regime capitalista, isso não significa que seja qualquer tipo de capitalismo que o trabalhismo possa admitir e defender. Em primeiro lugar, o trabalhismo brasileiro não poderia solidarizar-se com um capitalismo de caráter individualista e parasitário; em segundo lugar, há certas atividades e empreendimentos, certas riquezas e certas formas de poder econômico que devem ser socializados.

Nos sistemas individualistas, o capital visa exclusivamente o lucro, que poderá proporcionar a seus detentores possibilidades de consumo sem limites, à custa do produto social, isto é, do trabalho do proletariado. O trabalhismo não poderá admitir tal forma de capitalismo. Para o trabalhismo, o capital deve ser um conjunto de meios instrumentais ou aquisitivos, dirigidos e coordenados embora pela iniciativa e atividade privadas, tendo em vista o desenvolvimento da economia, e o bem-estar coletivo.

Consequentemente, o lucro não deverá ser o produto da exploração do trabalhador, mas, deduzida a justa remuneração do empresário, deverá constituir aquela parte do produto social que é invertida para a criação de novas riquezas e produção de bens.

O capital de caráter meramente especulativo e explorador não poderia encontrar guarida e tolerância no verdadeiro pensamento trabalhista. O capital é um conjunto de meios destinados à produção, à circulação e à troca. Uma fábrica é capital, uma estrada de ferro também o é. Não se pode ser contra o capital, o que seria absurdo. O capitalismo, porém, é uma relação de propriedade ou de exploração do capital. Se essa propriedade ou essa exploração são exercidas contra o interesse coletivo, o capitalismo é, evidentemente, um mal que deve ser combatido. Na constituição do capital há sempre uma parcela de usura do trabalho, e que é representada por aquela parte que está cristalizada no aparelhamento produtor.

Se alguém por exemplo, por meio de um empréstimo, constrói e instala uma fábrica, esse empréstimo terá que ser amortizado com os lucros do empreendimento. Ora, o lucro representa a não remuneração de uma parcela de trabalho e um sacrifício do consumidor. Para simplificar a ideia, suponhamos que um sapateiro tome a seu serviço um oficial. Se lhe pagasse, como salário, o que ele realmente produz, o dono da oficina não teria resultado algum. Isso significa que, para que o sapateiro tenha lucro, é necessário que o empregado ganhe menos do valor que realmente produz.

Com relação ao lucro que invertido, essa usura existirá em qualquer sistema. O capital é uma acumulação de lucro, isto é, de trabalho não remunerado. No sistema socialista de economia, o capital não se constitui através do lucro ou rendimento privado, mas através de taxação. Ora, a taxação produz idêntico efeito, pois equivale a uma redução do salário nominal. Se alguém, por exemplo, percebe mil cruzeiros mensais, mas tem que pagar duzentos cruzeiros de impostos, o salário real estará reduzido a oitocentos cruzeiros.

Se o Estado socialista pagasse ao trabalhador o valor integral do trabalho, não poderia haver inversões, isto é, não seria possível constituir o aparelhamento produtor e os demais meios correlatos, isto é, o capital. A parte do lucro, que é invertida, não representa uma injustiça social. Pode haver injustiça na parcela do lucro que é consumida pelo capitalista, sempre que o consumo exceda os limites razoáveis da remuneração devida à atividade empreendedora.

O problema, pois, não é o da existência ou supressão do lucro e sim o de sua aplicação. O capitalismo, portanto (isto é, a exploração privada dos meios de produção, circulação e troca) será injusto na medida em que proporcione, a alguns, possibilidades de consumo sem limites, à custa do produto social, isto é, do trabalho; será nocivo, na medida em que, para alcançar essas possibilidades, use de métodos e processos anti-sociais; será, por fim, inconveniente na medida em que tumultue o processo econômico, dando lugar às crises periódicas ou ciclos conjunturais, que são uma consequência natural da liberdade de iniciativa e da livre concorrência.

E de perguntar como será possível corrigir, praticamente, as injustiças e inconveniências
do regime capitalista. Poder-se-á responder que, se não é possível eliminá-las, será sempre possível atenuá-las. Taxar, por exemplo, os rendimentos, e aplicar o produto da taxação em inversões socialmente úteis será uma forma de canalizar o lucro e os rendimentos capitalistas para as suas verdadeiras finalidades. Taxar fortemente os artigos de luxo é, em geral, o supérfluo, e, com o produto da taxação custear serviços de assistência social, será outra forma de corrigir certas injustiças. Será uma maneira de obrigar os que podem adquirir o supérfluo a contribuir para resolver os problemas daqueles que não têm o necessário. E apenas isso que pretende o trabalhismo, isto é, tornar efetiva a solidariedade social.

Onde o sistema socialista de economia desse piores resultados que o capitalista, não haveria conveniência em substituir este por aquele. Suponhamos, por exemplo, que, numa fábrica, os operários ganhem, em média, x e o patrão lucre y. Com sua socialização, poder-se-á, sem dúvida, abolir o lucro, mas se a fábrica passar a ter uma administração pior, de modo que se encarecerá o custo da produção e do modo que a eliminação do lucro, nem aproveite ao operário nem ao consumidor, quais seriam as vantagens da socialização? Se a eliminação do lucro nem fizesse aumentar o salário do trabalhador, bem diminuísse o preço para o consumidor, a abolição do lucro seria perfeitamente inútil. A socialização só poderia dar resultados quando a administração daí empresa socializada pudesse ser mais eficiente do que a empresa privada. Para isso, porém, seria necessário um alto nível de educação social, que não existe ainda na maior parte dos homens.

A socialização integral dos meios de produção, no estado atual da humanidade, poderia trazer ainda outros inconvenientes, pois o Estado se tornaria todo-poderoso e seria difícil encontrar homens perfeitos para geri-lo. É certo que a tendência é para aumentar as funções do Estado, evoluindo da função simplesmente policial à função social e à função econômica. Essa evolução, porém, está condicionada a um maior grau de perfeição dos homens. Por outro lado, não será demais observar que, se a forma socialista da produção pode ser desaconselhada, não será para atender aos interesses capitalistas, mas para atender ao maior interesse da própria coletividade.

Será desnecessário esclarecer que há setores da economia onde a socialização ou a estatização se impõe. Não há hoje países onde impere o puro regime capitalista. Há países de economia exclusivamente socialista e países de economia mista”.


PASQUALINI, Alberto. Bases e Sugestões para uma política social. Porto Alegre, O Globo, 1948.

* Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre. www.cassiomoreira.com.br

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Afinal, o que querem as mulheres do século XXI?


Por Cássio Moreira

Geralmente quando escrevo, comento sobre economia ou política, infelizmente um assunto chato para a maioria das pessoas. Entretanto, como o espaço do site me permite escrever sobre cultura geral, nada mais “cultural” do que o comportamento humano. No artigo anterior falei sobre Pasqualini e que o mundo gira cada vez mais em função do “eu” e não mais do “nós”, fazendo as pessoas, de modo geral, buscarem relacionamentos fast-food: prontos e descartáveis. Isso fez com que eu me questionasse, por que as mulheres de hoje procuram relacionamentos sérios e não os encontram... Dessa vez resolvi escrever o ponto de vista das mulheres, pelo menos o que eu penso que elas querem. Num próximo, escrevo o ponto de vista dos homens.

Certa vez li em algum lugar algo mais ou menos assim: “que muitos de nós, homens, poderíamos pensar que basta o cara ser rico, forte e alto; e pronto. Poderíamos, inclusive, levá-las a restaurantes caros, comprar um new civic ou um carro importado e ir à academia todos os dias (bom, quanto ir academia acredito que, se não limitarmos o uso dos nossos cérebros para isso, nos fará muito bem), mas ainda não é isso que elas querem para ter algo sério conosco”. Verdade que tudo isso ajuda, mas como diz um ditado popular: beleza atrai sim, mas, com certeza, não mantém.

Então, afinal, o que querem as mulheres do século XXI? O mesmo que as mulheres do século XIII, XIX e XX. Atitude meus amigos. O que elas esperam realmente de um Homem, com H maiúsculo e dourado, é ATITUDE. Ser um cara, que seja leal a ela, o melhor amigo e o melhor amante. Que seja justo com os outros e consigo mesmo. Que tome partido, mesmo que seja pra saber qual restaurante levá-la ou a qual filme assistir. Que sempre chame a responsabilidade pra si e que, de saldo, ajude a resolver os problemas dela. Ela quer que tenhamos atitude de homem e não de menino. Quer que sejamos gentis, mas sem jamais perder a firmeza. Dar valor às pessoas, a família, mas antes de tudo, valorizá-las. Quer que demonstremos que ela é a mais linda, e que somos homens o suficiente, e merecedores, para tê-las. Mulheres adoram saber que temos orgulho de tê-las como nossas namoradas. Gosta de cara com opinião própria, mas que nem por isso saia brigando ou agredindo alguém. Muitas vezes elas podem gritar numa discussão, mas se nos fizermos o mesmo, meus amigos, elas nos acharam grossos. Coitados dos que agridem uma mulher, não sabem eles que agridem a sua masculinidade com isso. Não é brigando na rua ou no trânsito que impressionaremos esses seres tão exigentes...

Claro que não poderia esquecer: dar muito prazer e/ou segurança a elas, com doses de bom-humor (na hora certa). Use e abuse dos cheiros e das palavras, mulheres são muito olfativas a auditivas e sempre finalize com um abraço forte e protetor. Se eu pudesse resumir em quatro palavras diria: proteção, conforto, uma boa conversa e química são os ingredientes certos. Mas não se esqueça que uma boa parte das mulheres, como diria Merlyn Monroe, são egoístas, impacientes e um pouco inseguras. Cometem erros, um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se não soubermos lidar com o pior delas, (ainda mais naqueles dias), então com certeza, não mereceremos o seu melhor! Mulheres... Geralmente começam como virgens impassíveis e misteriosas, mas se tornam invencíveis na escuridão! Depois ambicionam o mar, e navegam infinitamente sem fronteiras pela nossa imaginação.

Árduo desafio para todos nós... 


Após as eleições, "O que querem os Homens do século XXI"?

Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre. www.cassiomoreira.com.br

O que leva um cidadão a decidir seu voto por um candidato? *


As vezes me pergunto o que leva um cidadão a decidir seu voto por um candidato? Pesquisando sobre isso, achei um artigo e o adaptei com algumas observações. Nesse artigo o autor observou por mais de um ano pesquisou planilhas dos resultados dos votos das eleições, notadamente proporcionais (vereadores e deputados), e usando o método do “geral para o particular”, conseguiu classificar o perfil dos candidatos eleitos, dos mais votados aos menos votados, buscando um perfil de suas respectivas inserções sociais e nível de influência na decisão do voto do eleitor, de onde pode estabelecer uma tabela de nível de eleitos de 1ª. até 7ª categoria. Entretanto, as seis primeiras com chances de ganhar a eleição. A tabela, por ordem de importância, pode ser assim classificada:

1ª. Categoria. Candidatos da Fama.
 A primeira e maior chance  de eleição, está com os candidatos famosos na sociedade, que atuam na mídia do rádio ou televisão, onde se incluem atletas, jogadores de futebol, comunicadores, cantores ou atores, desde que famosos junto ao povo e que detenham alta aprovação no índice de audiência de seus programas ou apresentações.

2ª. Categoria. Candidatos da Grana.
 Neste patamar está a turma que compra votos na eleição. É a turma da “grana” que se elege a peso de ouro. Esta categoria de candidato tem que ter muito dinheiro mesmo, pois o retorno do “investimento” em nível de votos ronda mais ou menos vinte por cento, ou seja; para cada cem votos comprados dá para contar com uns vinte votos na urna. Este jogo é pesado. Alguns buscam preencher o espaço vazio de suas vidas, outros buscam proteção da lei (com a imunidade parlamentar), para postergarem condenação na justiça, até por sonegação fiscal e outros crimes graves. Com o avanço da ficha limpa espero que esse grupo diminua.
Existem diversos exemplos, desde candidatos (milionários) a vereador até parentes de pessoas influentes financeiramente. Geralmente, eles se elegem sem trabalho nenhum junto ao eleitorado, se elegem com votação média, com altos investimentos em cabos eleitorais, larga folha de auxiliares (lideranças de bairros), e até presentes para as donas de casa, cestas básicas, e muita reunião com a famosa “lingüiça de campanha”, de terceira qualidade e bem barata.  
As vezes pode acontecer de gastar grana a granel na campanha e se eleger e assim.se livrar de processos em andamento na Justiça. Outras vezes fazem parcerias com alguma “igreja” em troca de alguma obra.  Por exemplo, ao lado da Igreja surgi uma construção enorme de um grande ginásio de esportes que nasce da noite para o dia...  O líder da igreja tinha feito um acordo com o dito candidato para a comunidade votar nele em troca do ginásio!  E assim foi feito o acordo, cumprido por ambas as partes.
Tem candidato que se elege e passa a ser protegido pela “imunidade parlamentar”, que era o que buscava para usar o cargo e negociar os impostos que devia para o Governo Federal e Estadual, sem ser processado. Portanto, fiquem atentos a candidatos que tem muito visual e dinheiro posto na campanha, pode ser um caso semelhante.

3ª. Categoria. Candidatos de Proposta Ideológica e Programática.
Neste patamar se encontram os candidatos que deveriam estar no 1º. Patamar, pois são os candidatos que acreditam em uma proposta política que é veiculada e propagada durante anos e anos. Demoram a convencer os eleitores já que seus nomes são construídos ao longo de anos. Perdem muita eleição até convencer o eleitor, pois a mídia pouco espaço lhes dá.
Acredito que minha candidatura se encontra nesse patamar.

4ª. Categoria. Nome famoso.
Esta chance de se eleger é para poucos, pois exige que o candidato tenha um pai ou tio famoso e popular que possa transferir seu prestígio para o parente próximo, filho, irmão, neto ou sobrinho.
Há alguns casos de que o filho não emplacou, o que põe em dúvida  o poder de transferência do voto do pai, que embora famoso, não pode estar desgastado. Temos também que considerar que o “afilhado”, tem que corresponder durante a campanha a um mínimo do que espera o eleitor dele. Caso contrário, mesmo famoso o nome do pai, o “afilhado” poderá não chegar ao poder.

5ª. Categoria. A Raridade do Milagre.
Quando acontece este fenômeno a eleição é favas contadas. É o chamado milagre ou fenômeno na eleição. Todos lembram da eleição de Enéas do antigo PRONA ou, ate mesmo mais recentemente, do Tiririca.
Algum candidato tem tantos votos que acaba puxando outro com votação bem menor. Esse é o candidato do “milagre.

6ª. Categoria. Candidatos da média.
Em último lugar se elegem os candidatos que possuem uma parcela de cada um dos itens acima, ou seja; possuem um pouco de fama pelo menos na sua inserção profissional, aparecem um pouco na mídia.
Possuem ou conseguem alguma grana para sustentar sua campanha política.
Conseguem se inserir de algum modo em movimento de caráter social, com proposta ideológica.
Possuem nome de família respeitável na comunidade.
Contam com uma ajuda quase milagrosa, como é o caso de um candidato que se filia em um partido de médio porte, sem candidatos de alta votação, e se elegem proporcionalmente com baixa votação, e assim chegam na disputa das últimas vagas, ou seja, ficam na “sobra” e  podem perder a vaga por poucos votos.

6ª. Categoria. “Burros de Carga”
São os demais candidatos que não se enquadram nestas categorias, seguramente não serão eleitos, mas podem ser classificados como suplentes, e seus votos só servem para ajudar os privilegiados candidatos encaixados nos seis critérios acima.
Geralmente os partidos os instigam, fazendo-os acreditar que tem chances ou que serão mais vagas do que uma previsão realista. São tratados como de segunda categoria pela maioria dos partidos.



É necessário registrar que os já eleitos e com mandatos, voltam sempre aos seus cargos, na proporção de 60% até 70% da composição de sua casa legislativa, pois estão em campanha permanente durante os quatro anos de sua legislatura.
Estas são as variáveis que dão a certeza de uma eleição em campanha política. É só guardar este artigo e conferir o resultado da próxima eleição.
Este ensaio foi fruto da observação do autor, sendo que continua balizando estas seis variáveis de possibilidades de um candidato se eleger, num país que ainda tem aproximadamente 72% de sua população classificados como “analfabetos funcionais e/ou políticos”, de acordo com os critérios das Nações Unidas.
Nossos políticos eleitos refletem a média cultural do nosso povo, o qual ainda vota com critérios de “desconstrução” do exercício da cidadania. No momento é o que temos em nossa realidade como resultado de nosso estágio cultural, em fase de frágil democracia, especialmente para os cargos do legislativo, quando a grande maioria da população não sabe em quem votar a menos de uma semana das eleições.

*Adaptado do texto de Lineu Tomass

Pode-se ainda conjecturar outras formas de decisão do voto, entretanto os eleitos geralmente estão enquadrados numa das seis categorias acima:
° voto de fã (artista, humorista, atleta, radialista,político, estar na mídia)
° voto de gratidão (aquele que já me ajudou)
° voto pela proposta (proposta de trabalho, proposta de governo)
° voto pela religião (faz parte da minha religião)
° voto de amizade e simpatia (conheço e gosto do candidato)
° voto de família (é primo,é tio, é irmão e família)
° voto de protesto (é contra o que esta aí – pior não vai ficar – é pra ficar pior)
° voto de categoria ( luta pelos aposentados, luta pelos metalúrgicos)
° voto calor humano (ele me cumprimentou, ele me abraçou)
° voto recompensa por perda (vou dar uma força, coitado, já é a quarta candidatura)
° voto do galã ou musa (é bonita, é lindo)
° voto de barganha ou troca ( se ganhar eu ganho, vai fazer)
° voto cabo eleitoral ( estou ajudando meu amigo cabo eleitoral, me pediu)
° voto de luta ( faz anos que vem lutando por esta causa)
° voto de respeito (é doutor, tem dinheiro, é importante)
° voto propaganda (essa musiquinha não sai da minha cabeça, só gravei esse nº)
° voto santinho ( achei o santinho no caminho da votação ou vi o numero num muro ou cavalete)
° voto comunidade ( mora no meu bairro, na minha cidade)
° voto partido ( esse é do meu partido)

OBS: "Se algumas pessoas não gostam de política, acham que todo político é ladrão, que não presta, não renunciem à política. Entrem vocês na política porque, quem sabe, o perfeito que vocês querem está dentro de vocês”.

 A política é muito importante, afeta nossas vidas, e deve ser prestigiada e ser adotada como profissão pelos melhores dentre nós. O Brasil precisa dramaticamente de bons políticos, e, felizmente, conta com um bom número deles. De homens e de mulheres dotados de espírito público, de compromisso com a nação, que, sem deixar de defender seus interesses legítimos, defendam também os do Brasil. Mas quando lemos os jornais, quando conversamos com os amigos, parece que ninguém presta. Definitivamente, não é verdade. 


Na maioria das vezes quando recebemos alguma forma de propaganda política rejeitamos sem ler. Eu até compreendo. Nossa política anda tão suja que virou sinônimo de politicalha. 
Entretanto, pergunto: - A política é algo necessário em nossas vidas?

Os mais céticos vão dizer: - Eu detesto política, tudo um bando de ladrão.

O mundo estaria em maus lençóis se todos acreditassem nisso. Justamente é isso que “eles” querem. Afastar os bons da política, pois ela domina as nossas vidas...queiramos ou não. Gosto muito daquele pensamento do Bertold Brecht: “O Anafabeto Político“, só pesquisar no Google...

Sou candidato porque acredito que a política é a melhor forma de ajudar a vida das pessoas. Não essa política que nos enoja e que é sinônimo de politicalha, mas sim uma política que visa o bem estar de todos.

 Parafraseando Rubem Alves:

  “Nosso futuro depende da luta entre políticos por vocação e políticos por profi$$ão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com eles". Eu desde muito cedo gosto de política, da boa política, e estou nela muito por idealismo e por acreditar que tenho qualificação para tal".
 "Amo a minha vocação, que é ser professor. Lecionar é uma vocação bela e fraca. O professor tem amor, mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um professor forte: ele tem o poder de transformar aulas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade”.


Peço apenas que procure conhecer melhor o que defendo: www.cassiomoreira.com.br

Se gostar, peço que me ajude a fazer com que mais pessoas conheçam nossas propostas e espero poder contar com o teu voto nessa batalha.

Nossas campanhas sempre foram com poucos recursos, mas sempre com criatividade, humildade e determinação!

Obrigado,
Ass.: Prof. Cássio Moreira:
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Vocação Política


Sobre política e jardinagem*

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim "vocare", quer dizer "chamado". Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um "fazer". No lugar desse "fazer" o vocacionado quer "fazer amor" com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.

"Política" vem de "polis", cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades; sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia, " a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é ser professor. Lecionar é uma vocação bela e fraca. O professor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um professor forte: ele tem o poder de transformar aulas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.

Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.

Assim é a política. São muitos os políticos profissionais.

Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: "Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade.... Ao contrário dos "legítimos" políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou professor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem." Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolês.

Eu resolvi escutar meu coração, minha vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de nós e um dia ele acordou em mim assim como pode acordar em vocês.

A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?

Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireros.

E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer. Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.

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*Adptado de um texto de Rubem Alves

Por que a oposição não fala mais de economia?


Subitamente, setores da sociedade brasileira querem que o povo saia às ruas. É preciso qualificar esses “setores da sociedade brasileira”. São aqueles que foram apeados do poder político no início dos anos 2000 e que tiveram sua agenda política e econômica dilacerada pela realidade. A globalização econômica cantada em prosa e verso nos anos 1990 revelou-se um fracasso retumbante. A globalização financeira, a única que houve, afundou em uma crise dramática que drenou bilhões de dólares da economia real, conta que, agora, está sendo paga por quem costuma pagar essas lambanças: o povo trabalhador que vive da renda de seu trabalho.
Durante praticamente duas décadas, nos anos 80 e 90, a esmagadora maioria da imprensa no Brasil e no exterior repetiu os mesmos mantras: o Estado era uma instituição ineficiente e corrupta, era preciso privatizar a economia, desregulamentar, flexibilizar. A globalização levaria o mundo a um novo renascimento. Milhares de editoriais e colunas repetiram esse discurso em jornais, rádios, tvs e páginas da internet por todo o mundo. Tudo isso virou pó. Os gigantes da economia capitalista estão mergulhados em uma grave crise, a Europa, que já foi exemplo de Estado de Bem-Estar Social, corta direitos conquistados a duras penas após duas guerras mundiais. A principal experiência de integração regional, a União Europeia, anda para trás.
No Brasil, diante da total ausência de programa, de projeto, os representantes políticos e midiáticos deste modelo fracassado que levou a economia mundial para o atoleiro, voltam-se mais uma vez para o tema da corrupção. Essa é uma história velhíssima na política brasileira. Já foi usada várias vezes, contra diferentes governantes. Afinal de contas, os corruptos seguem agindo dentro e fora dos governos. Aparentemente, por uma curiosa mágica, eles são apresentados sempre como um ser que habita exclusivamente a esfera pública. Quando algum corrupto privado aparece com algemas, costuma haver uma surda indignação contra os “excessos policiais”.
No último domingo, o jornal O Globo publicou uma reportagem para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção. O Globo sabe a resposta. Como costuma acontecer no Brasil e no resto do mundo, o povo só sai às ruas quando a economia vai mal, quando há elevadas taxas de desemprego, quando as prateleiras dos super mercados tornam-se território hostil, quando não há perspectiva para a juventude. Não há nada disso no Brasil de hoje. Há outros problemas, sérios, mas não estes. A violência, o tráfico de drogas, as filas na saúde, a falta de uma educação de melhor qualidade. É de causar perplexidade (só aparente, na verdade) que nada disso interesse à oposição. Quem está falando sobre isso são setores mais à esquerda do atual governo.
Comparando com o que acontece no resto do mundo, a economia brasileira vai bem. Não chegamos ao paraíso, obviamente. Longe disso. Há preocupações legítimas em nosso vale de lágrimas que deveriam ser levadas a sério pelo governo federal sobre a correção e pertinência da atual política cambial e de juros, apenas para citar um exemplo. O Brasil virou mais uma vez um paraíso para o capital especulativo e a supervalorização do real incentiva um processo de desindustrialização.
Curiosamente, essa não é a principal bandeira da oposição. Por que estão centrando fogo no tema da corrupção e não na ausência de mecanismos de controle de capitais, por exemplo? Por que não há editoriais irados e enfáticos contra a política do Banco Central e as posições defendidas pelos agentes do setor financeiro? Bem, as respostas são conhecidas. Os partidos políticos não são entidades abstratas descoladas da vida social das comunidades. Alguns até acabam pervertendo seus ideais de origem e se transformam em híbridos de difícil definição. Mas outros permanecem fiéis às suas origens e repetem seus discursos e estratégias, década após década.
Nos últimos dias, lideranças nacionais do PSDB e seus braços midiáticos vêm repetindo um mesmo slogan: o Brasil vive uma das mais graves crises de corrupção de sua história. Parece ser uma tese com pouco futuro. Tomando as denúncias de corrupção como critério, o processo de privatizações no período FHC é imbatível. Há problemas econômicos reais no horizonte. É curioso que isso não interesse à oposição. Afinal, é isso que, no final das contas, faz o povo sair às ruas. Sempre foi assim: a guerra, a fome, o desemprego. Esses são os combustíveis das revoluções.
A indigência intelectual e programática da oposição brasileira não consegue fazer algo além do que abrir a geladeira, pegar o feijão congelado meio embolorado da UDN, colocá-lo no forno e oferecê-lo à população como se fosse uma feijoada irrecusável. Mas no fundo não se trata de indigência. É falta de alternativa mesmo. Falta de ter o quê dizer. Não falta matéria-prima para uma oposição no Brasil, falta cérebro e, principalmente, compromisso com um projeto de país e seu povo.
O modelo político-econômico que hoje, no Brasil, abraça a corrupção como principal bandeira esteve no poder nas últimas décadas por toda a América Latina e foi varrido do mapa político do continente, com algumas exceções. Seu ideário virou sinônimo de crise por todo o mundo. É preciso mudar de assunto mesmo. A verdade, em muitos casos, pode ser insuportável, ou, simplesmente, inconveniente.

As CINCO maiores mentiras nacionais



A primeira mentira é chocante. Sustenta que "a Previdência Social está falida". Não é verdade. Os recursos da Previdência Social, se não fossem historicamente desviados para outras atividades, dariam para atender com folga e até com reajustes anuais maiores os pensionistas e aposentados. 
Basta atentar para o que anunciaram, quando ministros, Waldir Pires, no governo Sarney, e Antônio Brito, no governo Itamar Franco. Nada mudou, apesar de que, quando assumiu, Fernando Henrique Cardoso dedicou-se a espalhar a falência imediata, certamente vítima da febre privatizante, que jamais deixou de cobiçar a Previdência Social pública.
 
A segunda mentira imposta ao Brasil como verdade, é de que "estamos inseridos no mundo globalizado". Para começar, globalizado o planeta não está, mas apenas sua parte abastada. O fosso entre ricos e pobres aumenta a cada dia, bastando lançar os olhos sobre a África, boa parte da Ásia e a América Latina.
O número de miseráveis se multiplica, sendo que os valores da civilização e da cultura são cada vez mais negados à maioria. Poder falar em telefone celular constitui um avanço, mas se é para receber eletronicamente informações de que não há vagas, qual a vantagem?
 
Terceira mentira olímpica surge quando se diz que "o neoliberalismo é irreversível". Pode ser para as elites, sempre ocupando maiores espaços no universo das relações individuais, à custa da supressão de direitos sociais e trabalhistas. Se neoliberalismo significa o direito de exploração do semelhante, será uma verdade, mas imaginar que a Humanidade possa seguir indefinidamente nessa linha é bobagem. Na primeira curva acontecerá a surpresa.
 
Quarta mentira: "O socialismo morreu". Absolutamente. Poderá ter saído pelo ralo o socialismo ditatorial, por décadas liderado pela ex-União Soviética, mas o socialismo real, aquele que busca dar aos cidadãos condições de vida digna, a cada um segundo sua necessidade, tanto quanto segundo a sua capacidade. O que não pode persistir, e contra isso o socialismo se insurge, é a concentração sempre maior de riqueza nas mãos de uns poucos. Não pode dar certo.
 
Quinta mentira: "O Estado tem que ser mínimo, deve afastar-se das relações sociais e econômicas". Para quê? Para servir às elites? Especialmente em países como o Brasil, o poder público precisa prevalecer sobre os interesses individuais. Existe para atender às necessidades da população que o constitui. Deve contrariar privilégios e estancar benesses para os mais favorecidos, atendendo as massas.
 
Texto: Flávio Flores da Cunha Bierrenback

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

PSB e a continuação de um projeto de nação: o trabalhismo



Por Cássio Moreira
Em artigo anterior escrevi (http://sul21.com.br/jornal/2012/06/o-nacionalismo-economico-da-era-vargas-e-o-governo-lula-dilma-rousseff-retomada-de-um-projeto/) que o PT é o maior partido trabalhista do Brasil e o herdeiro político do velho PTB. O PT com a eleição de Lula em 2002 assume o governo com um projeto político de se perpetuar no poder pelo menos por 20 anos. Os dois mandatos de Lula mais os dois possíveis mandatos de Dilma já somam 16 anos. O que abre a pergunta de qual seria o candidato do PT para 2018?
Caso em 2014 seja o presidente Lula o candidato, existiria a possibilidade de Dilma voltar depois ou o próprio Lula tentar nova reeleição, algo improvável em virtude do avançado de sua idade. Caso Dilma se reeleja, quem seria o candidato do PT para 2018? Postulantes surgem nesse cenário dinâmico. O PT tem alguns nomes de projeção nacional. Tarso, Maria do Rosário, Jaques Wagner, o próprio Haddad ou até mesmo o atual ministro Guido Mantega… caso se eleja governador de SP em 2014. Outros nomes surgem nesse cenário longínquo. O PCdoB trabalha no projeto Manuela governadora 2018-presidenta 2022 ou antes. Contudo o grande nome que surge é de Eduardo Campos do PSB para 2018. Por isso, foi extremamente importante o crescimento do PSB nessas eleições de 2012, para assim, desbancar o PMDB do posto de vice. Acredito que será um erro estratégico o PSB lançar candidato em 2014, mas sim, ter Eduardo Campos como candidato a vice-presidente.
O PT vive, assim como os demais partidos, um problema de renovação de quadros e o fato de ser governo traz ao partido uma tendência de ir perdendo espaço no campo eleitoral. Seria muito bom, inclusive para o próprio PT, que surgissem forças políticas consistentes à sua esquerda. Infelizmente, as alternativas existentes ainda não conseguiram superar o pragmatismo, a falta de um projeto consistente e viável à esquerda (baseado na doutrina trabalhista, pois esse é o único projeto verdadeiramente de esquerda dentro do espectro capitalista) e a obsessão em eleger o PT como principal adversário.
O PSB pode e deve ser essa alternativa. Mas pra isso não deve ser uma alternativa ao PT, ou antipetista, e sim uma alternativa de esquerda e não ao PT. Deve crescer ao lado do PT e aos poucos e de forma natural ser a continuação desse projeto trabalhista em curso, com fortalecimento do estado, da distribuição de renda e avançarmos para as reformas de base. Iniciado com Vargas, depois com a tentativa de aprofundamento com Goulart do PTB antigo, e atualmente resgatado e retomado com Lula-Dilma do PT.
O grande cuidado que o PSB deve ter, e o risco ainda não tem mensuração, é de que as forças conservadoras de direita usem o PSB como forma de enfrentar o projeto trabalhista em curso com o PT, essa aproximação da direita com o PSB seria uma forma de enfrentar a presidenta Dilma já que a oposição tradicional se encontra enfraquecida. Um desses caminhos seria a aliança com o PSD, e de forma mais extrema e improvável, com uma possível fusão entre as duas siglas surgindo então o Partido Social Brasileiro mas continuando com a sigla PSB. Se por uma lado essa fusão tornaria o PSB a maior bancada na câmara federal e um dos maiores partidos do Brasil, por outro lado poderia levar o PSB a se tornar um partido de centro-direita e de oposição ao PT e ao projeto trabalhista.
O antídoto é a construção de um projeto solido de esquerda para afastar-se do proselitismo eleitoral e do cretinismo parlamentar tão comum aos partidos de direita, para isso os quadros do partido devem ler mais Alberto Pasqualini: http://sul21.com.br/jornal/2012/03/precisamos-ler-alberto-pasqualini/
* Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Campus Porto Alegre.www.cassiomoreira.com.br

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Afinal, o que querem as mulheres do século XXI?



Por Cássio Moreira

Geralmente quando escrevo, comento sobre economia ou política, infelizmente um assunto chato para a maioria das pessoas. Entretanto, como o espaço do site me permite escrever sobre cultura geral, nada mais “cultural” do que o comportamento humano. No artigo anterior falei sobre Pasqualini e que o mundo gira cada vez mais em função do “eu” e não mais do “nós”, fazendo as pessoas, de modo geral, buscarem relacionamentos fast-food: prontos e descartáveis. Isso fez com que eu me questionasse, por que as mulheres de hoje procuram relacionamentos sérios e não os encontram... Dessa vez resolvi escrever o ponto de vista das mulheres, pelo menos o que eu penso que elas querem. Num próximo, escrevo o ponto de vista dos homens.

Certa vez li em algum lugar algo mais ou menos assim: “que muitos de nós, homens, poderíamos pensar que basta o cara ser rico, forte e alto; e pronto. Poderíamos, inclusive, levá-las a restaurantes caros, comprar um new civic ou um carro importado e ir à academia todos os dias (bom, quanto ir academia acredito que, se não limitarmos o uso dos nossos cérebros para isso, nos fará muito bem), mas ainda não é isso que elas querem para ter algo sério conosco”. Verdade que tudo isso ajuda, mas como diz um ditado popular: beleza atrai sim, mas, com certeza, não mantém.

Então, afinal, o que querem as mulheres do século XXI? O mesmo que as mulheres do século XIII, XIX e XX. Atitude meus amigos. O que elas esperam realmente de um Homem, com H maiúsculo e dourado, é ATITUDE. Ser um cara, que seja leal a ela, o melhor amigo e o melhor amante. Que seja justo com os outros e consigo mesmo. Que tome partido, mesmo que seja pra saber qual restaurante levá-la ou a qual filme assistir. Que sempre chame a responsabilidade pra si e que, de saldo, ajude a resolver os problemas dela. Ela quer que tenhamos atitude de homem e não de menino. Quer que sejamos gentis, mas sem jamais perder a firmeza. Dar valor às pessoas, a família, mas antes de tudo, valorizá-las. Quer que demonstremos que ela é a mais linda, e que somos homens o suficiente, e merecedores, para tê-las. Mulheres adoram saber que temos orgulho de tê-las como nossas namoradas. Gosta de cara com opinião própria, mas que nem por isso saia brigando ou agredindo alguém. Muitas vezes elas podem gritar numa discussão, mas se nos fizermos o mesmo, meus amigos, elas nos acharam grossos. Coitados dos que agridem uma mulher, não sabem eles que agridem a sua masculinidade com isso. Não é brigando na rua ou no trânsito que impressionaremos esses seres tão exigentes...

Claro que não poderia esquecer: dar muito prazer e/ou segurança a elas, com doses de bom-humor (na hora certa). Use e abuse dos cheiros e das palavras, mulheres são muito olfativas a auditivas e sempre finalize com um abraço forte e protetor. Se eu pudesse resumir em quatro palavras diria: proteção, conforto, uma boa conversa e química são os ingredientes certos. Mas não se esqueça que uma boa parte das mulheres, como diria Merlyn Monroe, são egoístas, impacientes e um pouco inseguras. Cometem erros, um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se não soubermos lidar com o pior delas, (ainda mais naqueles dias), então com certeza, não mereceremos o seu melhor! Mulheres... Geralmente começam como virgens impassíveis e misteriosas, mas se tornam invencíveis na escuridão! Depois ambicionam o mar, e navegam infinitamente sem fronteiras pela nossa imaginação.

Árduo desafio para todos nós... 

Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre. www.cassiomoreira.com.br

Precisamos ler Alberto Pasqualini


Por Cássio Moreira
Alberto Pasqualini pode ser considerado o maior teórico do trabalhismo brasileiro, deixou uma obra extensa, como por exemplo: às “Diretrizes Fundamentais do Trabalhismo Brasileiro”. Pasqualini sustentava que o principio do trabalhismo é o de que nenhum ganho é justo desde que não corresponda a uma atividade socialmente útil. Nem sempre o que constitui um ganho legal é um ganho justo, assim como, todo ganho deve estar sempre em função do valor social do trabalho de cada um. Onde há ganhos sem trabalho, há parasitismo e usura social. Portanto, conforme a doutrina trabalhista, o capital deve ser um conjunto de meios instrumentais ou aquisitivos, dirigidos e coordenados pelo Estado, e muitas vezes executado pela iniciativa privada, mas sempre tendo em vista o desenvolvimento da economia e o bem-estar coletivo. O capital de caráter meramente especulativo e explorador não pode encontrar guarida e tolerância no verdadeiro pensamento trabalhista. As idéias de Alberto Pasqualini centravam-se numa plataforma reformista que tinha como objetivo transformar o “capitalismo individualista em capitalismo solidarista, com uma socialização parcial do lucro”.
Pasqualini acreditava que a ação governamental deveria ser eminentemente pedagógica. A condução política far-se-ia pelo esclarecimento da sociedade, via mudança de mentalidade. O sistema educacional era, para ele, o caminho mais eficaz para realizar as reformas sociais, políticas e econômicas, superando assim o subdesenvolvimento do país. Sua concepção de Estado era a de que ele era fruto da evolução da sociedade. Ao fazer uso de uma analogia entre “cérebro e corpo”, o Estado é o cérebro da sociedade, o órgão mais especializado e complexo ao qual cabe um papel de direção e organização. Portanto, as reformas necessárias ocorreriam por meio da mudança de mentalidade. Para isso era necessária uma reforma na consciência social, que diminuiria as práticas egoístas e as substituiria por ações solidárias, tais como cooperação, ordem, harmonia, lealdade, evitando, portanto, o confronto entre os interesses individuais (egoístas) com os interesses coletivos (morais). Pasqualini destacou principalmente a função moral do Estado: executar na prática o sistema solidário com suas especificidades.
Percebam que é exatamente isso que falta na nossa sociedade atualmente: uma reforma na consciência social. Ademais, nossa mídia, pelo menos grande parte, faz um desserviço à coletividade. A maioria dos programas midiáticos nos ensina valores individualistas e egocentristas. O mundo gira em função do “eu” e não mais do “nós”, fazendo as pessoas, de modo geral, buscarem relacionamentos fast-food: prontos e descartáveis. Entretanto, construir requer solidariedade. Então pergunto: qual o país que queremos construir quando temos, como matéria-prima pra isso, uma parcela cada vez maior de analfabetos políticos?
Por isso, se economia, sociologia, filosofia e política, assim, como, a leitura de Pasqualini fosse incentivada nas escolas e em todos os cursos das nossas faculdades, teríamos mais esperanças… por um mundo mais justo e solidário.
Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre.

Quando ganhar é ser vice


Por Cássio Moreira 

No Brasil a vaga de vice sempre foi desvalorizada. Já fomos vice-campão mundial, vice-campeão na Fórmula 1, vice-campeão em bola de gude, etc. Até nos campeonatos de futebol ser vice é perder. 
A eleição de Porto Alegre será uma das mais disputadas. Quem não for para o segundo turno, e acredito que haverá, não será vice-prefeito. De um lado o atual prefeito, grande pessoa e caráter, entretanto com uma aliança cada vez mais a direita com a entrada do DEM e a confirmação do PP. De outro lado, jovem, mas já com grandes vitórias eleitorais, a deputada federal Manuela do PCdoB e seu leal aliado, o PSB, além de outros partidos como o PSD e o PSC. 
Em terceiro lugar nas pesquisas está Villaverde. O PT já esteve muitos anos na prefeitura e revolucionou a forma de governar com Olívio Dutra. Seus principais nomes, Maria do Rosário e Henrique Fontana, por motivos diversos abriram mão de concorrer. A ministra fazendo um belíssimo trabalho como Secretária de Direitos Humanos prepara-se para ser a sucessora de Tarso Genro. O segundo, por questões particulares, priorizou a família. 
Acabou sendo Villaverde. Talvez até ele não acreditasse em ser candidato e sim vice. Homem inteligente que é, veria como uma vitória ser eleito vice. Afinal, havia uma época no Brasil que os vices governavam. Lembro Café Filho, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco, só pra citar no âmbito federal. 
O PT ficou numa encruzilhada. Se apoiasse Fortunati desagradaria seus fieis parceiros e aliados: PCdoB e PSB. Se apoiasse Manuela, desagradaria o PDT, um partido que poderá ajudar muito na reeleição em 2014, caso não tenha candidato próprio. Embora, cada vez mais, há chances de termos três candidatos competitivos: Tarso, Ana Amélia e Fortunati. 
Houve a tentativa de garantir a candidatura do PT com Raul Pont, quando setores mais a esquerda do partido tentaram viabilizar a candidatura do ex-prefeito. Contudo, com a sua desistência, Villaverde consolidou-se como candidato. Agora, para muitos do partido, ficaria complicado recuar e ser vice de alguém. 
Entretanto, perde muito espaço deixando de ser vice e apenas apoiando num segundo turno. Em segundo turno não é vice, é agregado. Agregados não têm a mesma importância do que vice. O PT empurra com a barriga um problema que poderia resolver agora. Melhor momento não há, quando Ana Amélia declara apoio a Manuela, contrariando seu partido. 
O PT sendo vice de Manuela deixa a senadora em posição difícil. Se Ana Amélia quiser manter a coerência, deverá continuar apoiando o projeto que já declara ser o melhor, mesmo tendo o PT de vice. Se não apoiar, nessas circunstâncias, perde a credibilidade e sai mais enfraquecida perante o eleitorado e seu partido. 
O PT ser vice de Fortunati é algo inviável nessa altura do jogo político, pois explode a aliança tão arduamente construída com os partidos de centro-direita. 
O PT, então, estaria mais preocupado em garantir a manutenção ou ampliação da sua bancada de vereadores em Porto Alegre, algo mais fácil de construir-se tendo um candidato forte na majoritária. Acredito que esta não seja uma boa explicação para permanecer com candidato próprio. Mas ainda pergunto, o que vale mais: uma vaga de vereador ou uma de vice-prefeito? 

O nacionalismo econômico da Era Vargas e o governo Lula-Dilma Rousseff: retomada de um projeto?


Por Cássio Moreira
Recentemente ministrei uma palestra, em sessão ordinária da Câmara Municipal de Porto Alegre, sobre o tema Desenvolvimento Econômico Brasileiro na Era Vargas e que está disponível em vídeo no site www.cassiomoreira.com.br. O evento correspondeu ao Ciclo de Debates “A Trajetória de um Estadista – Getúlio Vargas – 130 Anos (1882-2012)”.
Na explanação, salientei que, nos períodos em que Getúlio Vargas esteve na presidência da República, de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, houve o desenvolvimento de um projeto de nação para o Brasil. A economia brasileira, até então, era sinônimo de economia cafeeira, baseada num único produto, o que gerava enorme dependência do país à exportação do café.
Getúlio chegou ao poder, por meio do golpe de 1930, numa época em que apenas 2% da população brasileira votava, pois mulheres e analfabetos ainda não tinham direito ao voto. No processo eleitoral predominava o chamado “voto de cabresto”, manipulado pelo poder político e econômico das elites.
No período ditatorial em que vigorou o Estado Novo, de 1937 a 1945, Vargas deu maior ênfase ao desenvolvimento do ensino profissionalizante e à consolidação do Estado nacional, que até então era dependente de interesses da economia cafeeira, liderada predominantemente por São Paulo e Minas Gerais.  Vargas defendia um projeto baseado no nacionalismo econômico e o Estado Novo trouxe a consolidação do estado nacional e, dentro do projeto industrializante, as leis trabalhistas para os trabalhadores da cidade. Entretanto, Vargas será deposto no Estado Novo, ajudado por uma contradição: internamente. Getúlio liderava uma ditadura; externamente, apoiava os aliados contra ditaduras.
Com a deposição de Vargas em 1945 e a eleição de Eurico Gaspar Dutra à presidência da República, ocorreu uma breve paralisação desse processo, por meio de uma política econômica mais conservadora, embasada numa liberalização cambial. As reservas cambiais acumuladas no período Vargas, então, foram gastas em pouco tempo. Nas eleições de 1950, Getúlio concorreu à presidência e voltou ao poder em 1951. Num primeiro momento, ele começou uma política econômica mais estabilizadora e, depois, consolidou o nacionalismo econômico, com a criação de estatais como a Petrobras e o BNDES. Havia, neste período, uma pressão cada vez maior da mídia, que acusava Vargas de corrupção. Até que, em 24 de agosto de 1954, Vargas se suicidou, adiando o golpe de Estado que ocorreu dez anos depois.
Nesse processo de desenvolvimento soberano, as empresas estatais teriam uma posição estratégica. Foi na Era Vargas que ocorreu a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e de outras estatais que, mais tarde, seriam privatizadas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A carta-testamento de Getúlio pode ser um resumo do programa econômico de seu governo. Em 1955, ao ser eleito, Juscelino Kubitschek promove o “Plano de Metas 50 anos em 5, focado na indústria de bens duráveis. Juscelino adota um modelo desenvolvimentista, mas também amplia a participação de multinacionais, enfraquecendo o projeto de Vargas. Com a construção de Brasília no período de JK, ocorreu uma aceleração inflacionária que perdurou até o período de reabertura democrática do país.
Com a renúncia de Jânio Quadros, o vice-presidente João Goulart assume o poder e retoma o projeto varguista, sendo influenciado por alguns pensadores como Alberto Pasqualini, e com a tentativa de implantação das reformas de base o projeto Vargas transmuta-se no projeto trabalhista, que conforme Moniz Bandeira, será uma espécie de social-democracia brasileira. Algumas dessas reformas continuam, atualmente, em pauta, como a tributária e a política. Com o golpe de Estado em 1º de abril de 1964, começou o regime militar no país, que se manteve no poder até 1985, e assim, esse projeto trabalhista (nos marcos do nacional-desenvolvimentismo) foi interrompido.
Depois desse apanhado histórico, um pouco de opinião embasado na linha de pesquisa que começo a estudar… Quando o PT chegou ao poder em 2003, tinha um projeto político (de poder) e focado no combate a fome e a distribuição de renda, entretanto, sem um projeto claro de país. Contudo, quando a atual presidenta Dilma Rousseff, ingressou na Casa Civil e passou a influenciar os rumos do país: o projeto trabalhista de Vargas e Goulart é resgatado (claro que num contexto historicamente diferente). Cabe lembrar, a tentativa de criar uma estatal do Pré-Sal, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o programa Luz pra Todos e Minha Casa minha Vida, a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, a Política de Desenvolvimento Produtivo, entre outros.
O PT herdou a condição de partido das massas do antigo PTB e passa a constituir, pelo menos em termos práticos embora alguns petistas não concordem, como o maior partido trabalhista do país. Assim, o governo da presidenta Dilma Rousseff, com seus aliados de esquerda como, por exemplo, o PSB, PCdoB e parte do PDT, retoma o projeto trabalhista, que no passado teve em sua essência as reformas de base, essas que continuam tão atuais. Assim como, continuam atuais a oposição sistemática de parte da mídia e de parte da elite brasileira e o uso das bandeiras da moralização e do combate a corrupção: tão usadas contra os governos com caráter popular e trabalhista como Vargas, Goulart, e de certo modo, JK.
Em resumo, ainda continuam em disputa dois modelos ou projetos para o país: um desenvolvimentista, capitaneado pelo PT, e que prega maior intervenção do estado na economia e; outro liberal, capitaneado pelo PSDB, e que defende que o Estado interfira menos nas chamadas leis do livre-mercado.
Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre.   www.cassiomoreira.com.br